8.6.06

BLOOD FEAST - E a América pariu o Gore

Cumummente considerado o primeiro filme gore de sempre, teve a sua estreia em 1963 e foi realizado por Herschell Gordon Lewis como a 1ª parte de uma triologia de sangue, completada pelos 2000 Maniacs (a banda veio ao filme buscar o nome) e Colour Me Blood Red.
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Foi capaz de transformar o orçamento dispendido de 24.500 dólares numa facturação de 4.000.000 dólares só nos EUA (mais de 160 vezes o valor investido), o que só por si dá uma boa ideia do sucesso que atingiu.

Mas convém não sermos enganados… O filme é tecnicamente muito mau.
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Não tem enredo nem estória, apenas uma série de acontecimentos que tentam estabelecer uma linha narrativa tão complexa quanto uma conta de somar e cujo principal objectivo é, mais do que justificar as cenas de derramamento de sangue, preencher o espaço entre elas.

O derramamento de sangue, esse, é que é a verdadeira essência e interesse do filme. Captado com as cores (essas sim magníficas) que se tornariam imagem de marca do autor/realizador, o filme apresenta uma sequência de cenas de violência graficamente explícita, algo que nunca antes havia sido visto no cinema e que incluía, entre outros sadismos, membros a serem amputados, cérebros e línguas a serem arrancados, etc, tudo bem regado com muito, muito sangue, bem encarnado.
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Por tal, este filme tornou-se um marco incontornável na história do cinema, tendo representado para a exibição da violência aquilo que mais tarde o Garganta Funda representou para o sexo, implicando o seu banimento na RFA e no Reino Unido (neste até 2001) e a actual classificação para maiores de 18 anos que lhe está associada num grande número de países.

A partir deste ponto nunca mais o cinema foi o mesmo: as agressões e o consequente sangue começaram a ver-se mais, principalmente em géneros como o de horror/terror, que até aí eram modestos no seu uso, preferindo a sugestão à exibição. Hoje em dia, a violência gráfica e o sangue fazem parte integrante de um vasto tipo de filmes, designadamente os blockbusters de acção.
Assim, o uso de imagens explícitas de violência é actualmente apenas uma ferramenta entre outras na construção de um filme, sendo o seu bom uso aceite como normal ou até essencial, permitindo a criação de cenas de grande intensidade e/ou divertimento.

E tirando isso?
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Tirando isso não resta grande coisa… Foi filmado em 9 (nove) dias e os actores são todos eles carentes do mínimo de credibilidade exigível e de quaisquer dotes interpretativos. Um deles, Scott Hall que faz o papel do polícia William Kerwin, era apresentador de circo e foi convencido pelo produtor David Friedman a aceitar esse papel na falta do actor previamente escolhido, poucos dias antes do início da rodagem. Verificando-se incapaz de interpretar e decorar deixas passa o filme a ler da palma da mão e a gritar bem alto (conforme foi instruído pelo produtor, que lhe terá dito que se não sabia representar, que gritasse).
A banda sonora, da inteira responsabilidade do realizador é lamentável; a câmara está quase permanentemente fixa, bem como os actores que deslocam tanto quanto peças de mobiliário pregadas ao chão; os cenários são paupérrimos...
...mas por isto mesmo é que o filme é tão singular, tão divertido e tão leve - em suma, tão entretenedor.
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A estória, bem… da estória já foi dito qualquer coisa, mas resta acrescentar que no filme a personagem principal é um caterer de origem egípcia que (ab)usa (de) uma encomenda para fornecer a paparoca para uma festa por forma a levar a cabo um ritual dedicado a uma deusa de nome Ishtar, tendo em vista ressuscitá-la.
Para tal necessita de carne de jovens mulheres, que começam a aparecer pela cidade assassinadas e sem partes do corpo. A polícia é chamada a intervir mas não consegue nem sequer aproximar-se do assassino. Entretanto a data para a festa e o associado ritual ocultista aproximam-se…
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Conclusão:

Este filme poderia ser, atento o conjunto das suas características, uma homenagem/paródia sanguinária ao trabalho do Ed. Wood Jr.… mas não é…

É sim um ligeiro e despretensioso pedaço de história de cinema, que proporciona quer ao apreciador, quer ao curioso interessado, um pouco mais de uma hora de diversão em que a ausência de qualidade geral é directamente proporcional à grandeza da relevância histórica.

8 Comments:

Blogger kay disse...

Pela 2ª vez não fui capaz de publicar o post na data designada para publicação, quinta-feira... Tal deve-se ao facto de estar sem net em casa.

Peço desculpa.

Uma vez que estou a fazer os posts no trabalho, à hora de almoço, e aqui não consigo ver videos, agradecia que se alguém se apercebesse que algo não está bem com os que tenho publicado, me avisasse, p.f.

12:32 da tarde  
Blogger Flávio disse...

eh eh eh eh Gosto sempre de umas boas 'tripas', mas comigo (e, se calhar, com a generalidade dos espectadores de cinema) o terror menos gráfico e mais psicológico funciona sempre melhor.

5:23 da tarde  
Blogger Flávio disse...

Olha, era um bom título kitsch para este post: 'Tripas à moda de Hollywood'! lol

5:24 da tarde  
Blogger kay disse...

É de facto um excelente título... :)

Comigo o ideal é um bom mix, nas quantidades certas de terror psicológico e gráfico... com mais do primeiro que do último, também...

O que é interessante hoje em dia em muito cinema é o uso de uma forte componente gráfica de violência em géneros que não o terror...

talvez por isso, actualmente, este tipo de violência neste tipo concreto de filmes acaba por ser mais divertido do que terrífico...

por outro lado, o uso, se bem que pouco extenso, mas muito intenso, de imagens explícitas de violência em filmes doutros géneros traz-lhes uma intensidade e uma carga muito interessante...

5:30 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Gostei de conhecer o teu blog: parece-me ser um projecto com um excelente futuro :)!

Quanto ao filme em questão...já tinha visto imagens dele, mas nunca tinha visto um trailer. Como tal, só te tenho a agradecer por esta oportunidade. Bom trabalho!

Também tenho um blog. Passa por lá sempre que quiseres :).

Cumprimentos

1:39 da manhã  
Blogger Carca disse...

Eu quero muito ver este filme, mas sofro do mesmo problema que tu: falta-me internet!

Como estou em mudanças, vou ficar sem internet este mês e parte do próximo, o que me levou a criar uma data de posts de reserva (um velho hábito meu) para ir alimentando o meu blog. É que nunca se sabe, uma pessoa compromete-se a si mesma e depois quando falha é aborrecido.

4:46 da tarde  
Blogger João Pires disse...

Amigo, vi este filme hoje...e realmente ele é muito ruim. Vale apenas como "documento histórico"....

12:39 da manhã  
Blogger Demonarch disse...

Comprei, na Amazon, a caixa do HG Lewis, lançada pela something weird. Pouca coisa se aproveita, mas, diga-se, o título homônimo é divertidíssimo: um mix de imagens psicodélicas com horror de brachola. Well, por que não visita meu blog? Congratulations.

12:24 da manhã  

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