17.5.06

GRINDHOUSE _ prefácio_ (adenda: EXPLOITATION [breves considerações sobre...])


"Filmes EXPLOITATION: Filmes produzidos com pouca ou nenhuma preocupação em termos de qualidade ou de mérito artístico, mas tendo em vista, outrossim, um lucro rápido, habitualmente através de uma grande pressão nas vendas e de técnicas de promoção baseadas na enfatização de um qualquer aspecto sensacionalista dos mesmos."
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Ephraim Katz, The International Film Encyclopedia (London: Macmillan, 1979)
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Os primeiros filmes deste (hoje considerado) género a ser inscritos na história do cinema remetem-nos aos anos 30 e 40 do séc. XX, sendo no entanto à época raros e geralmente incompreendidos.
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A sua produção massifica-se nos anos 60, como reacção ao conservadorismo que dominou a década anterior e parte dessa mesma, sendo simultaneamente consequência e alavanca da grande revolução de mentalidades que ocorreu nos EUA durante o final dos anos 60 até à segunda metade dos anos 70.
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A génese desta vaga concretizou-se num corte com um “código de conduta cinematográfica”, tácitamente aceite e estabelecido pelos grandes estúdios, referente aos valores (ou à ausência dos mesmos) cuja apresentação seria admissível no ecrã. Fazendo uso de um esquema de produção independente os pioneiros deste género lançam peliculas especialmente vanguardistas e originais no seu conteúdo, abusando de todos os temas e imagens que pudessem ser chocantes tendo em vista atrair os espectadores, tornando-se muito populares, designadamente entre os adolescentes e os jovens.
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Com o decorrer do tempo, a sempre poderosa industria do cinema americano (se bem que nesse tempo mais fraca), usando a sua tipíca filosofia de eliminar tudo o que com ela concorre através da absorção e inoculização, tratou de integrar nas suas produções aquilo que no exploitation atraía o público, designadamente o sexo e a violência gráficos, enquanto paralelamente lhe ia eliminando alguns extremos do seu agradável e característico “mau gosto”. Assim, os grandes estúdios arriscaram bastante nesta época, efectuando experiências na produção de filmes que não se vislumbra que alguma vez tenham a coragem de repetir.
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À medida que o descrito processo de absorção do Exploitation pelos grandes estúdios foi progredindo, os criadores independentes vão extremando o conteúdo dos seus trabalhos, por forma a poderem concorrer com aqueles.
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Com a estreia do filme Deep Throat (Garganta Funda) - uma fita para adúltos com um enredo sexual e uma razoável quantidade de cenas de sexo explícito - em Junho de 1972, desencadeia-se um fenómeno de perseguição à pornografia - que até era bastante suave quando comparada com a actual - que acaba por o publicitar pelos quatro cantos do mundo e de cujas batalhas legais tendo em vista a sua banição resulta um golpe fatal na censura. O filme torna-se graças a tudo isto um sucesso à escala planetária e a pornografia transforma-se num elemento de cultura popular, acessivel a todos e apreciada por toda a gente - nasce, para uma breve existência, o porno chic.
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Os grandes estúdios, se bem que sem nunca se meterem no campo da pornografia, haviam, por esta altura, integrado e mutado tudo o que tornava o Exploitation distinto e popular, vencendo a batalha contra este tipo de produção independente. A abordagem clássica da violência e do sexo são para sempre abandonadas pelos grandes estúdios, que adoptam eles também as técnicas de marketing deste género, conseguindo, coadjuvados pela nova onda de conservadorismo dos anos 80 e o advento do vídeo, apagar do consumo de massas, juntamente com as Grindhouses, os típicos filmes que lhes "incendiavam" os ecrãs... O que poucos hoje têm noção é que quando vão a um multiplex ver a última produção multimilionária blockbuster de mistério, crime ou horror, estão na realidade a vêr um decalque pouco arrojado e menos imaginativo daqueles que foram os filmes exploitation pioneiros.
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Hoje, o exploitation "original" assume a forma de um culto, cada vez mais crescente.
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8 Comments:

Blogger kay disse...

Não partilho dessa opinião... Passo a explicar porquê:

Os dois filmes de que falaste são filmes que diferem dos que se convencionou etiquetar de Exploitation, entre outras razões, pelas seguintes:

foram ambos grandes produções de grandes estúdios (Tarzan the Ape Man foi produzido e distribuído, à data, pela MGM e King Kong pela RKO Radio Pictures),

com grandes orçamentos (respectivamente 652 mil dólares e 670 mil dólares – como termo de comparação podemos ter o orçamento do filme Maniac, de Dwain Esper, comummente reconhecido como sendo um dos primeiros filmes Exploitation, que foi de 5 mil dólares),

embora tenham uma série de limitações que são inerentes às possibilidades técnicas existentes no momento em que foram filmados, é inegável que os padrões quer da qualidade da produção, quer de exigência artística, eram os mais elevados possíveis naquele tempo,

ambos estes filmes serviam de veículo a uma narrativa que por sua vez se desenvolvia a partir de uma ideia/mensagem, em ambos os casos brilhantemente ilustrada – no caso dos filmes Exploitation costuma (se bem que com excepções) haver algumas imagens à volta das quais se tenta construir uma narrativa que as justifique, sem o apoio de ideia substancial alguma e sem o objectivo de transmitir nenhuma mensagem.

Basicamente, no Exploitation, procura-se os temas e as imagens que podem ser chocantes e/ou populares e usa-se as mesmas (e a publicidade em volta das mesmas) para atrair as pessoas ao cinema. Como muitas vezes o que é chocante ou popular é proibido arranja-se uma estória, de preferência moralista, que justifique a sua apresentação. Por vezes o resultado final é o mais bizarro imaginável…

Muito obrigado pelo teu interesse e por manifestares a tua opinião. Gostava que este blog se tornasse num local de diálogo e discussão. Além do mais, com a tua intervenção pude esclarecer melhor coisas que, dada a natureza resumida da explicação postada, podem ter ficado dúbias.

Finalmente, o que disseste quanto aos efeitos especiais nesses filmes é verdade, no entanto, os efeitos especiais que alimentaram os filmes Exploitation tinham mais a ver com a apresentação gráfica de violência (sangue a rodos, pessoas a ser esfaqueadas, degoladas, amputadas, etc)

12:27 da tarde  
Blogger kay disse...

Sim. Concordo. Devia ser terrífico...

Mas eu quando falo de violência gráfica refiro-me a um grande plano de uma faca a entrar no pescoço e a esguichar sangue para todo o lado.

Este tipo de imagens foi uma grande conquista dos anos 60, designadamente do realizador Herschell Gordon Lewis, pioneiro na apresentação explícita de violência.

Como termo de comparação, repara nos film noir de gangsters, em que embora haja muita violência, com gajos constantemente a levar tiros, a ser completamente metralhados com aquelas armas de carregador redondo, não se vê pinta de sangue.

Tal como não se vê sangue no King Kong...

Mas concordo que o King Kong provocasse um enorme terror nos espectadores, à data.

Tal como trinta anos mais tarde (1963) o Blood Feast do Herschel Gordon Lewis provocou nos seus espectadores um terror imenso, pois os seus efeitos especiais, embora do mais barato possível (aliás, o filme foi feito em dois dias) terão provocado o pânico, de tão grotescos que eram.

2:22 da tarde  
Blogger kay disse...

Não, não sou expert...

Ainda ando a estudar as matérias...

Mas não me parece que os filmes que tu disseste caibam dentro da categoria Exploitation. Embora também neles haja a tentativa de explorar o sensacionalismo, especialmente no do macaco gigante, faltam outros dos requisitos para serem assim catalogados.

Se seguirmos a definição que eu incluí no inicio deste post (que é muito sintéctica - pelo que não refere muitos factores que podem ajudar a definir o género - mas muito objectiva) verificamos que esses dois filmes, atento o cuidado colocado na qualidade da sua produção, não se podem incluir no género...

Mais tarde, nos anos 60, houve o repescar dos animais-gigantes-que-são-monstros-e-poêm-a-humanidade-em-causa... O realizador Roger Corman foi prolífico na sua criação. Há de tudo: lesmas gigantes, lagartos gigantes, aranhas gigantes, caranguejos gigantes...

Mais tarde fdalarei de todos estes realizadores e dos seus principais filmes...

3:16 da tarde  
Blogger kay disse...

perdoem-me os erros de escrita...

deveria estar a trabalhar, em vez de a responder...

abraços

5:04 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Olá amigo! Sou o Yúri, do blog brasileiro Necrofilmes. Seu blog é genial, muito bom mesmo. Pesquiso bastante também sobre o tema. Vamos trocar informações. E se quiser, DVD's exploitation.

4:03 da tarde  
Blogger kay disse...

Com muito gosto...

Fica à vontade para me contactares: leafpower@hotmail.com

4:46 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Cara do car@#$% este seu blog!!!

PARABÉNS!!!

VC É UMA PESSOA QUE NÃO RESTA A MENOR DÚVIDA!!!

VALEU!!!

3:22 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Excelentes explanações.
Parabéns, considero-me um tanto quanto mais por dentro do assunto agora.
Saudações dos fãs Brasileiros de cine-exploitation!

12:34 da tarde  

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